25 de mai. de 2020

CRISE IMOBILIÁRIA DE 2008




Autor: Veridiano Rabelo dos Reis Vieira, aluno do 3ª, turma de 2020 da EEFM Estado do Paraná
Texto produzido para o componente História em 11 de Maio de 2020

Você sabe o que foi a crise imobiliária de 2008? Não?! Então vou te explicar de maneira simples e direta. Embora a bolha da economia tenha estourado em 2008, essa crise vem sendo "temperada" desde desde os anos 90. O crescimento vertiginoso dos preços de imóveis, a grande valorização dos imóveis e a grande segurança ao qual parecia ter, fez com que os investimentos nessa área aumentassem, mas foi só em 2001 que realmente podemos dizer que a crise deu seus primeiros passos, pois com o ataque de 11 de setembro, por medo de uma crise econômica, o governo americano procurou maneiras de reativar a economia.

Como ele fez isso? simples! aumentou os créditos a juros baixos! Até aí, mal algum, iniciou-se uma nova era de consumo! Afinal, quem não quer ter uma casa própria? Quem tinha acesso aos créditos, comprava a casa financiada (hipoteca).

Pessoas que tem créditos e condições de pagar a dívida com os bancos são chamados de "PRIME".  Essas seriam as pessoas aos quais os bancos emprestariam com a segurança do retorno do investimento. Porém ainda havia uma grande camada da população exclusa dessas áreas de consumo, como os latinos, pessoas sem emprego fixos e os pessoas de baixa renda, esses são chamados de "SUBPRIME". Essas são linhas com pouca segurança, mas com um grande retorno financeiro. É constituído por pessoas que em sua maioria não teriam acessos aos créditos e tão pouco a comprar casas se não fosse empresas como Fannie e Freddie, que tinham um mecanismo muito peculiar de trabalhar: elas iam até bancos, compravam as dívidas desses "SUBPRIMES" as transformavam em títulos de investimento, e vendiam por meio de corretoras para outros bancos. Com a inadimplência desses "SUBPRIMES" o problema começou. Os preços das casas caíram, pois era muita oferta, pouca demanda, muitos endividados com a hipoteca e muitos bancos da Europa e dá Ásia compraram esses títulos de investimento e acabaram não recebendo.

O mundo então viu empresas grandes fecharem suas portas e grandes bancos quebrarem. Isso teve grandes impactos em todo mundo, principalmente em países nos quais os bancos compraram os títulos de investimento, e, embora aqui no Brasil não tenha tomado proporções como nesses países, ainda foi o bastante para depor uma presidenta eleita e dar início a grandes protestos que mudaram os rumos da política brasileira.

29 de abr. de 2020

Reflexões sobre o Dia do Trabalhador (1º de Maio)


Origem da data
Em primeiro de maio de 1886 na cidade de Chicago nos Estados Unidos tem início uma greve reivindicando a jornada de trabalho de 8 horas. Na época, os trabalhadores das indústrias eram obrigados a trabalhar até 17 horas por dia num ritmo de exploração desumano. Mas, a classe trabalhadora descobriu a sua principal arma para conquistar direitos: a organização política e sindical. Foram, então, criados os sindicatos, como ferramenta de luta organizada para enfrentar a poderosa classe burguesa, a proprietária dos meios de produção e, portanto, dos principais recursos econômicos da sociedade.
Os sindicatos da cidade de Chicago eram dirigidos pelos anarquistas, grupo político que defendia o estabelecimento de uma sociedade igualitária e a imediata destruição do Estado, visto por eles como um balcão de negócios da burguesia.
A adesão à greve foi massiva e envolveu cerca de 340.000 trabalhadores em todo o país, mas dois dias depois, em 3 de maio, ocorre um confronto entre os grevistas a policiais armados, resultando na morte de três trabalhadores. Na noite seguinte outro confronto com a polícia resultaria na morte de 7 policiais e de 12 manifestantes, além de dezenas de feridos.
Cinco militantes anarquistas, Albert Parsons, Adolph Fisher, George Engel, August Spies e Louis Ling foram responsabilizados por essas mortes e condenados execução na forca. Um deles cometeu suicídio, Louis Ling, e os outros 4 foram enforcados em 11 de novembro de 1887. Outros três foram condenados à prisão perpétua. 
Mas, em 1893 foi feita uma importante revelação: havia sido o chefe da polícia que tinha organizado todo o atentado para justificar a repressão aos grevistas, que foram, então, inocentados.
Para homenagear esses grevistas, mortos injustamente por reivindicar um direito tão importante para a classe trabalhadora, a Segunda Internacional decidiu convocar anualmente uma manifestação na mesma data do início da greve de Chicago: o Primeiro de Maio, que surgia como um dia de luta pela conquista definitiva da jornada de 8 diárias de trabalho.  Na manifestação de 1891 na França houve outro conflito entre trabalhadores e policiais que resultou na morte de 10 manifestantes.  A Segunda internacional decidiu convocar o primeiro de maio anualmente na luta por diversos direitos trabalhistas e não mais apenas pela jornada de 8 horas. Essa conquista foi obtida no período entre guerras (1919-1939).

Primeiro de maio no Brasil
No Brasil essa data era motivo de muitos protestos dos trabalhadores reivindicando direitos. Para controlar a situação o presidente Arthur Bernardes decidiu decretar a data como feriado nacional a partir de 1925, transformando-a numa data de festas e homenagens, descaracterizando a motivação do movimento. O objetivo não era, de fato, homenagear os trabalhadores, mas enfraquecer sua luta. Naquela época foi por meio dessas lutas que os trabalhadores obtiveram direitos hoje importantíssimos: além da jornada de diária de 8 horas, houve a regulamentação do trabalho da mulher e do menor, o descanso semanal remunerado e as férias remuneradas.
No entanto, o presidente Getúlio Vargas, aproveitava o dia primeiro de maio para regulamentar esses direitos obtidos na luta e se apresentar como o “Pai dos pobres” por supostamente conceder direitos aos trabalhadores. Em primeiro de maio de 1940 ele estabeleceu a lei do salário mínimo, no ano seguinte, na mesma data, ele regulamentou a Justiça do Trabalho e em 1943 implantou a CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas.  Tudo na perspectiva de deturpar o sentido da luta. Até o feriado mudou de nome: os militantes que lutavam por direitos chamavam de Dia do Trabalhador, para passar a ideia de protagonismo de classe; o governo conseguiu impor o conceito de Dia do Trabalho, termo que, sutilmente, esconde a luta e coloca em seu lugar a ação paternalista do governo, numa forma de dificultar a formação da consciência de classe entre os mais explorados sociedade.

Dia de São José Operário
Até a Igreja Católica se preocupou em desviar o sentido do dia primeiro de maio quando em 1955 o Papa Pio XII instituiu essa data como o Dia de São José Operário, para desviar os trabalhadores cristãos das lutas operárias desse dia, tornando-o num dia de receber as mensagens da Igreja.

Conclusão
O dia Primeiro de Maio não é uma data qualquer. Ela possui uma simbologia cujo sentido e razão de ser é disputado por diversos segmentos de classe social. De uma data de luta por direitos, os governantes transformaram num feriado e dia de festa.
De uma data de conscientização de classe, a Igreja Católica instituiu um momento de aceitação do domínio de uma classe sobre outra.
Enfim, cabe aos trabalhadores do tempo atual aproveitarem a data para refletirem o seu significado e buscarem novamente o caminho das conquistas acreditando nas suas forças.


Autor: Júlio César, professor de História da rede estadual do Ceará

19 de abr. de 2020

FORTALEZA NO CONTEXTO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Autores:

Júlio César Saunders de Araújo, professor de História da rede pública estadual do Ceará, Licenciado em História pela UECE e mestre em Educação pela UFC

Ismael Jairo Mesquita Nascimento, aluno do 1ºD da EEFM Estado do Paraná, turma de 2020

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha nazista invadia a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial. Quase três anos depois, pressionado pelo torpedeamento de embarcações brasileiras, Getúlio Vargas declarou guerra à Alemanha. Mas, antes mesmo desses torpedeamentos a população de Fortaleza debatia a questão e cobrava do governo federal um posicionamento contra o nazismo. O governo de Getúlio Vargas estava dividido entre as duas posições em conflito. Havia membros do governo favoráveis aos EIXO (Alemanha, Itália e Japão), mas a população de Fortaleza se manifestava em favor dos Aliados (Inglaterra, França, Rússia e Estados Unidos). O jornalista Blanchard Girão descreveu assim a situação na escola onde ele estudava em 1941:

As discussões na cidade e no Liceu versavam basicamente sobre a grande guerra. O Brasil estava sob controle do Estado Novo, regime copiado do modelo fascista italiano. Se o Governo Vargas tinha um embasamento ideológico direitista, a maioria do povo, todavia, simpatizava com a causa Aliada, cujo símbolo maior estava na figura de Winston Churchill, o primeiro ministro da Inglaterra, que resistia com inaudita bravura à monstruosa ofensiva aérea da Luftwaffe, a poderosa aviação nazista comandada por Hermann Goering. Crianças, ainda com pequeno volume de informações, tomávamos os nossos partidos e, por vasta maioria, contra a Alemanha. Para tanto contribuía o cinema, que exibia uma sequência de filmes de guerra enfocando as atrocidades nazistas e a valentia dos soldados dos países Aliados, a essa altura reduzidos à Inglaterra e ao que sobrou dos países ocupados. A misteriosa Rússia – ou União Soviética – firmara um Pacto de Não-Agressão e se isolara no extremo norte europeu. (GIRÃO, 1997, p.26)

A entrada do Brasil, atraiu, no final de 1943 a instalação de bases norte-americanas em Fortaleza, uma no Pici e outra no Cocorote (atual Alto da Balança). Durante anos circularam por aqui mais de 50 mil norte-americanos causando um choque de cultura muito grande que marcaria a cidade por décadas a seguir.

O conflito mudou os hábitos e despertou as paixões dos cearenses, que chegaram a fazer o famoso quebra-quebra no dia 18 de agosto de 1942, quando o povo de Fortaleza em fúria passou a depredar e depois a saquear tudo que tivesse relação com Alemanha, Itália e Japão. Atacaram lojas como “As Pernambucanas” do grupo Lundgren, a Sapataria Veneza e representações de laboratórios como a Bayer (GIRÃO, 1997, p.58). O ataque era irracional pois a população de Fortaleza, movida pela forte emoção, não soube diferenciar as pessoas do governo de seu país de origem. Uma das vítimas foi a modesta família de Guilherme Fugita, japonês que morava na capital cearense. Ele foi protegido por vizinhos que evitaram o pior. 

Numa entrevista ao jornal Diário do Nordeste de 10 de setembro de 2012[1], o doutor e professor do mestrado do curso de História da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Erick Assis, afirmou que vários aspectos podem ser destacados. Em primeiro lugar o Ceará mobilizou uma quantidade significativa de seus habitantes pobres para a campanha conhecida como “os soldados da borracha”, o Ceará, mesmo pobre e isolado à época, mobilizou 377 combatentes para a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Erick de Assis também comentou que em relação a cultura urbana a influência veio principalmente do cinema, isso acabou significando uma tradução cultural do estilo norte-americano. Com isso alguns setores da cidade de Fortaleza tentavam respirar um certo glamour e algumas casas, no bairro da aldeia foram projetados na tentativa de incorporar a arquitetura da mansão do filme “E o vento levou”, lançado em 1939.

Raimundo Ximenes em sua obra, sobre a origem do bairro Montese nos descreve a experiência de Hélio Pinto Vieira na sua aventura como um dos soldados do “Exército da Borracha”:

Levado pelo patriotismo, no verdor dos anos, embarcou para a Amazônia e lá depois foi abandonado na selva como muitos outros companheiros, que não voltaram. Ele teve sorte, conseguiu retornar para contar a trágica história, sofrida por causa de um acordo celebrado entre Brasil e Estados Unidos, no tempo da guerra, o chamado “Acordo de Washington”, que levou mais de 30 mil cearenses , que formaram o “Exército da Borracha” cuja missão era extrair látex para a fabricação de pneus, isolantes, calçados e outros produtos derivados da borracha.  O recrutamento era feito através do Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores (SEMTA), que funcionou no lugar onde, atualmente, fica a Escola Industrial, próxima ao quartel do 23º BC.  Naquela época a Amazônia era apresentada como um verdadeiro paraíso, com o slogan “A Extração da Borracha da Vitória”. Ledo engano! (XIMENES, 2004, p. 86)


Como podemos perceber, muita paixão estava envolvida e o povo cearense procurava ajudar como podia na luta contra o nazi-fascismo. Infelizmente, a experiência do “Exército da Borracha” acabou se tornando mais um capítulo triste de nossa história. O patriotismo cearense se mostrava inocente e a compreensão de conceitos como povo, Estado, nação se confundia num turbilhão de pensamentos apaixonados que levaram a população da capital do Ceará a cometer excessos em suas ações.
Dos 377 cearenses disponibilizados para o conflito em campo no solo italiano, 6 faleceram nos combates (4 sargentos e dois soldados). Foram eles:

·         2º Sgt Francisco Firmino Pinto – natural de Quixeramobin.  Faleceu no dia 11 de novembro de 1944 na localidade de Valdidura por desastre Auto - B-5.
·         2º Sgt Hermínio Aurélio Sampaio – natural de Crateús.  Tombou em Monte Castelo (morte em 12 de dezembro de 1944 em combate aos 36 anos de idade. Era 2º sargento e após a morte foi promovido a 1º sargento).
·         3º Sgt Edson Sales de Oliveira -natural de Jaguaruana. Tombou em Montese no dia 14 de abril de 1945. 
·         3o Sgt Francisco de Castro – natural do antigo distrito de São Bento, Itapipoca, hoje município de Amontada.  Tombou no combate na localidade de Zocca no dia 22 de abril de 1945.
·         O soldado José Custódio Sampaio, natural de Caucaia. Faleceu no dia 22 de maio de 1945, em Parola.
·         Cloves da Cunha Pais de Castro, soldado natural de Assaré. Faleceu em ação no dia 24 de janeiro de 1945 próximo a Castelnuovo, quando fazia parte de uma patrulha de reconhecimento de posições nazistas. Foi enterrada em uma cova rasa pelos alemães, junto a outros dois companheiros. (XIMENES, 2004, p. 91)

As bases aéreas instaladas no Campo do Pici e no Cocorote mexeram com a rotina da cidade. Ainda existe uma lenda de que o nome Pici tem origem na expressão inglesa PC (em inglês se pronuncia pici), numa referencia ao posto de comando instalado no bairro. Mas, essa lenda é desmentida pelo pesquisador Nirez que afirma no site de Leila Nobre que o nome Pici surgiu no século XIX sendo o nome de um sítio cujo proprietário, o agrimensor Antônio Braga, era admirador da obra O Guarani de José de Alencar na qual os personagens Pery e Ceci tiveram seus nomes aglutinados para a forma Peci. 

Houveram outros sítios com mesmo nome pertencentes as famílias Queiroz e Wayne. Um desses sítios as margens do Riacho Cachoeirinha foi propriedade do pai da escritora Rachel de Queiroz. Além disso, o termo em inglês correto para posto de comando não é Post Command (PC), mas Command Post (CP).

Em 1941 tem início a construção da base norte-americana no local que ficaria concluída em março de 1942.Foi construída também uma longa via (atual Av. Carneiro de Mendonça) em direção a outra base instalada na capital. A continuidade dessa via logo após a Avenida João Pessoa foi chamada de Cocorote (atual Rua 15 de Novembro), esse sim um termo originário do inglês “Coco Route”, rota do Cocó. Raimundo Ximenes descreve assim a história dessa via:

[A Rua 15 de Novembro ( Cocorote)] na antiga Pirocaia, era apenas uma estrada margeada de cerca de arame farpado, desde a Av. João Pessoa, até um sítio de propriedade da Família Monteiro.

Com a construção do Campo de Pouso do Cocorote, em 1942, ampliado no ano seguinte, aquela propriedade foi cedida, inclusive aos americanos aquartelados em Fortaleza e até uma capelinha dedicada à Nossa Senhora Aparecida, existente ali, foi demolida. Naquela época, a antiga estrada foi pavimentada em pedra tosca, revestida de cimento, passando a servir de único acesso ao aeroporto, durante e após a guerra, até a construção da Avenida Luciano Carneiro, no começo da década de 60. Com um quilômetro de extensão começando na Av. João Pessoa, ali onde se localiza o Bar Avião, terminava no portão que dava acesso, também à Base Aérea. Atualmente ela termina na Carlos Jereissati. (XIMENES, 2004, p.79)


Os pousos e decolagens foram até 1944 e no local foram também construídos paióis, fortificações baixas, as vezes subterrâneas onde os militares armazenam armas e suprimentos. Alguns desses paióis ainda existem no bairro do Pici.
No encontro entre a via do Pici (atual Av. Carneiro de Mendonça e a Rua 15 de Novembro) foi fundado o Bar Avião de propriedade de Antônio de Paulo Lemos inspirado na presença de aeronaves entre o Pici e o Cocorote. Sobre o prédio do bar ele construiu uma caixa d’água no formato de um avião bimotor. O espaço ainda existe e chama a atenção dos que passam pelo local.

Na Rua 15 de Novembro moças da alta sociedade fortalezense passeavam com seus namorados norte-americanos em direção à Base do Cocorote. Os norte-americanos eram muito prestigiados na cidade e recebiam regalias em ambientes como clubes elegantes, frequentados por pessoas da alta sociedade local. Essas moças, muito avançadas para a época, receberam o apelido de “garotas coca-cola”, devido a um refrigerante muito consumido pelos soldados, mas até então desconhecido por aqui. (XIMENES, 2004, p.81).

 

Os norte-americanos difundiram novos costumes na capital cearense: o idioma inglês ficou valorizado deixando os resquícios da Belle Epoque francesa para trás. O consumo de cigarros de marcas como Camel,  Chesterfield, Lucky-Stryke e Pall Mall foram popularizados entre nós. Surgiu um tipo popular conhecido como  “Xore e gás” (Short guy – baixinho), que se aproximou dos americanos e lhes servia de cicerone por todo canto. (GIRÃO, 1997, p.60)
Foi também montada uma agência consular em Fortaleza nas proximidades da Praça do Ferreira onde era obtida a revista “Em Guarda” na qual os norte-americanos passavam informaçoes bem ilustradas sobre o conflito. De acordo com Raimundo Ximenes foi nessa época que se descobriu o valor da lagosta no mercado internacional. A mesma era vendida na Praça do Ferreira na calçada da Rual Floriano Peixoto e foi bastante apreciada pelos norte-americanos.  (XIMENES, 2004, p.81).
Na Praia de Iracema funcionava um clube frequentado por oficiais norte-americanos chamado USO. Era também ponto de encontro das jovens da sociedade cearenses que namoravam os militares do país ianque e eram conhecidas como “Coca-colas”.  Surgiu até um bloco de carnaval para ironizar essas jovens.  (GIRÃO, 1997,p. 63).
No dia 8 de maio de 1945 foi anunciada a vitória dos Aliados sobre a Alemanha. Foi uma chuva de fogos de artifício, sirenes, buzinas de carros e apitos de fábricas. Fortaleza recebeu a notícia da vitória da mesma maneira que recebeu o início da guerra: com forte emoção. Foi um conflito que mexeu com o imaginário do cearense.

Locais de Fortaleza que fazem referencia à Segunda Guerra Mundial

Já no final da guerra um dos combatentes decidiu homenagear o nome de um bairro de Fortaleza em homenagem à vitória brasileira na Batalha de Montese ocorrida na Itália. Esse combatente foi Raimundo Ximenes, que nem sequer saiu de Fortaleza tendo servido no Paiol da Lagoa Seca, atual bairro do Pirambu. Ele foi muito marcado por essa vitória dos pracinhas brasileiros ocorrida no dia 14 de abril de 1945. Decidiu, então lutar para homenagear o feito dando o nome do lugar onde morava, a antiga Pirocaia, de Montese. Esse desejo foi realizado e hoje esse é um dos bairros mais conhecidos e dinâmicos da cidade.

Outro espaço na mesma região foi a Praça foi fundada em Fortaleza em homenagem aos Estados Unidos e em reconhecimento das ações do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt. A praça com o seu nome deu origem ao bairro Jardim América, uma explicita homenagem ao povo ianque. O Jardim América que já se chamou Dom Bosco, Barro Preto, Barreiras, Tauape e Laguna era, naquela época uma região pouco habitada de Fortaleza por ser uma área pantanosa e coberta de riachos.

Numa reportagem do Jornal O Povo de 19 de setembro de 2020[2], o então presidente da Associação dos Moradores Márcio Martins afirmava que o governador do estado, na época da fundação do bairro fez a seguinte referência: “aqui vai nascer um pedaço da América. Ao redor de tanto verde, aqui vai ser o Jardim das Américas”. Isso aconteceu porque foi obtido, junto aos norte-americanos, recursos financeiros para realizar a terraplanagem da área.


Outro bairro que tem origem inspirado numa batalha da Segunda Guerra é o Monte Castelo.  Na época a região era conhecida pelo nome do açude João Lopes quando o prefeito Raimundo Alencar Araripe decidiu em 16 de junho de 1945 homenagear a vitória brasileira em Monte Castelo, na Itália, denominando a região em torno do açude com o nome dessa batalha, surgiu, então o bairro Monte Castelo de Fortaleza, cuja principal avenida homenageia um dos militares mortos nessa batalha em 12 de dezembro de 1944 aos 36 anos de idade, o Sargento  Hermínio Aurélio Sampaio, natural de Crateús que, era, então 2º sargento e, após a morte, foi promovido a 1º sargento.
Além desses homenageados, temos também: a Avenida Castelo Branco que faz referência ao ex-presidente (durante o Regime Militar) e ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, o cearense Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco; a Av. dos Expedicionários, uma explicita referência aos militares da Força Expedicionária Brasileira (FEB);  a Praça Tenente José Francisco Cadete, homenageando o ex-pracinha, natural de Cascavel , que faleceu em 29 de outubro de 1989 e foi o fundador da Associação Nacional dos Veteranos da FEB – ANVFEB – Seção Regional do Ceará. Hoje nome de praça no Montese, onde existe um busto seu.

Outro homenageado foi o Frei Orlando, nome religioso do capelão militar Antônio Álvares da Silva (1913-1945), natural do estado de Minas, falecido na Itália, no dia 20 de fevereiro de 1945, um dia antes da tomada de Monte Castelo.  Frei Orlando é, atualmente, patrono da Capelania das Forças Armadas do Brasil e tem seu nome numa das ruas do bairro Damas.

E por fim, O Colégio Monsenhor Dourado, no bairro Antônio Bezerra e a rua com o mesmo nome no bairro Vicente Pinzon homenageiam o capelão militar Joaquim Jesus Dourado, integrante da FEB.  Ele morreu em 1974 aos 69 anos de idade, vítima de acidente automobilístico quando dirigia se Volkswagen. (síte: portal da História do Ceará). Em uma opinião sobre ele no Jornal Diário do Nordeste de 18 de agosto de 2011, Gealdo Nobre, advogado, administrador e dicionarista nos diz:

Nós, a molecada da rua Antônio Augusto, nunca invejamos a turma do Tio Sam. Ali, na esquina de Fiúza de Pontes, tínhamos o nosso ultra-super-heroi. Real. De carne e osso. Padre Joaquim Jesus Dourado. O Capitão Dourado. Em verdade, esteve na Segunda Guerra e testemunhou a Batalha de Monte Castelo como capelão do Exército Brasileiro. Portava maleta de madeira, que se transformava em altar, conduzindo crucifixo, acitara, missal, patena, cálice, âmbula com hóstias, galhetos com água e vinho, pala, sanguíneo e manustério. Poderosa arma de fé confortante de nossos soldados da FEB. Nos anos 50, o víamos chegar em casa. De batina preta, em seu Citröen 15CV. E sair, com a farda do EB, para o Quartel da 10ª RM. Pedíamos a bênção e ele, sempre sorridente, nos abençoava, traçando no ar o sinal da cruz. Mereci a honra de tê-lo como celebrante de meu casamento, em julho de 1967. (In: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/opiniao/capitao-dourado-1.670023. Acesso em 17 de abril de 2020).

Conclusão

Podemos concluir que a cidade de Fortaleza foi muito influenciada pela Segunda Guerra Mundial porque ela despertou paixões dos cearenses que agiram mais pela emoção do que pela razão, principalmente nos episódios do “quebra-quebra” e na aceitação passiva do “Exército da Borracha”. Talvez isso se deva a pouca leitura de mundo nessas bandas do Brasil na época que contava com poucas escolas de nível médio, onde destacou-se o Liceu quando seus alunos se posicionavam favoráveis aos Aliados.
A presença de bases norte-americanas por aqui mudou a geografia dos bairros, ajudou a criou lendas, trouxe novos hábitos e moveu o imaginário popular.
A lição que fica é de que podemos conhecer melhor nossa história para transmiti-la às futuras gerações com um pouco mais de cuidado na formação de conceitos. A confusão que fizeram ao agredir estrangeiros é algo que, se pode ser compreendido no contexto da época, deve ser combatido com o conhecimento de mundo mais aprofundado por meio de estudo históricos e sociais bem fundamentados.  

Bibliografia
BENTO, Cláudio Moreira. Os 68 sargentos heróis da FEB mortos em operações de guerra. Resende; FAHIMTB/Gráfica Drumond,2011
GIRÃO, Blanchard. O Liceu e o Bonde na paisagem sentimental da Fortaleza – Província/Memórias. Fortaleza: ABC Fortaleza, 1997

MAIA, Geimison. Jardim América: O bairro que nasceu verde e inspirado nos EUA.Jornal O Povo em 19/09/2013. In: ww20.opovo.com.br/app/colunas/opovonosbairros/2013/09/19/noticiasopovonosbairros,3132182/jardim-america-o-bairro-que-nasceu-verde-e-inspirado-nos-eua.shtml. Acesso em 16 de abril de 2020


MAZZA, Carlos. Homenagem em Fortaleza reúne heróis da Batalha de Monte Castelo. IJornal O Povo em 21 de fevereiro de 2019. In: https://www.opovo.com.br/noticias/2019/02/36383-homenagem-em-fortaleza-reune-herois-da-batalha-de-monte-castelo.htmlAcesso em 16 de abril de 2020.
NOBRE, Leila. Pici e a II Guerra Mundial. Fortaleza Nobre 8 de setembro de 2010. In: http://www.fortalezanobre.com.br/2010/09/pici-e-ii-guerra-mundial.html. Acesso em 16 de abril de 2020
OLIVEIRA, Fernanda. Monte Castelo quer ser visto. Diário do Nordeste em 26 de maio de 2010. In: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/monte-castelo-quer-ser-visto-1.236734. Acesso em 16 de abril de 2020.
ROCHA, Thiago.Ceará foi marcado pela II Guerra. Diário do Nordeste em 10 de setembro de 2012. In: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/ceara-foi-marcado-pela-ii-guerra-1.614182. Acesso em 17 de abril de 2020.

 

XIMENES, Raimundo Nonato. De Pirocaia a Montese: fragmentos históricos. Fortaleza: Raimundo Nonato Ximenes, 2004




[1] ROCHA, Thiago.Ceará foi marcado pela II Guerra. Diário do Nordeste em 10 de setembro de 2012. In: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/metro/ceara-foi-marcado-pela-ii-guerra-1.614182. Acesso em 17 de abril de 2020.

[2]MAIA, Geimison. Jardim América: o bairro que nasceu verde inspirado nos Estados Unidos. Jornal O Povo de 19/09/2013. In: ww20.opovo.com.br/app/colunas/opovonosbairros/2013/09/19/noticiasopovo. Acesso em16 de abril de 2020.

2 de dez. de 2019

DESTAQUES DE NOVEMBRO...

 Sábado, 30 de novembro, realizamos o Sarau Cultural e o encerramento do Mês da Consciência Negra. Contamos com uma ampla programação:
Declamações de poesias autorais;
Apresentações musicais;
Premiação do V Concurso Paranauê de Redação;
Apresentação do Grupo Verso de Boca - UFC;
Entrega dos certificados da Oficina de poesia - prof. Alessandra e Jéssica;
Grupo de Percussão Escola Estado do Paraná;
Participação do DJ Iatagan; Apresentação do Maracatu.
Nossos agradecimentos ao Maracatu Nação Fortaleza, D. Edna e Calé Alencar pela ajuda que nos é dada todos os anos e, especialmente, a todos (as) alunos (as) e professores (as) pela dedicação em tão bela festa.

Marden Cristian






 


 



 

Apresentação do Grupo Verso de Boca - UFC;


 





Maracatu Nação Fortaleza


Como parte integrante da Programação do Mês da Consciência Negra a EEFM Estado do Paraná recebeu na tarde de  28 de novembro, Sudário Mesquita. Com ampla discussão e vivências foram abordados temas como Identidade, Enfrentamento ao Racismo e a Lei 10639/03. Foram valorosos momentos de aprendizagem.

Marden Cristian







A EEFM Estado do Paraná participou sexta, 29 de novembro,  do Ceará Científico 2020 - Etapa Regional.

 Os trabalhos selecionados foram:
1. Projeto Eletroquímica: explicando as reações.
Orientador: João Medeiros
Alunas: Luara Cavalcante e Crisley Freire.


2. Mudanças no espaço urbano de Fortaleza no início do século XX: a elite e o fenômeno das secas.

Orientador: Júlio César

Alunas: Gabrielle Noemi e Maria Eduarda Oliveira.

Marden Cristian








27 de nov. de 2019

INVASÕES HOLANDESAS NO CEARÁ


Invasão holandesa no Ceará (1637-1654)
Por: Samuel Lucas Silva Ribeiro[1]
Júlio César Saunders de Araújo[2]
Quando os holandeses já dominavam os territórios de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte decidiram ocupar o Ceará e aqui chegaram em 26 de outubro de 1637. Nessa data, tomaram o forte de São Sebastião e depois de uma breve, mas valente resistência portuguesa comandada por Bartolomeu de Brito (que contava com apenas 33 homens e pouca munição) o forte foi invadido pelos holandeses sob o comando de Jorge Garstman e Hendrick Huss. Bartolomeu de Brito foi levado prisioneiro para o Recife.
Em 1644, os holandeses foram atacados por uma revolta dos índios da região. O então comandante holandês, Gedeon Moris, que havia substituído Hendrick Huss em 1641, foi morto no confronto.
Em 1649, os holandeses retornaram ao Ceará, dessa vez sob o comando de Matias Beck e construíram o Forte de Schoonenborch, as margens do Rio Pajeú, onde futuramente seria erguida a vila de Fortaleza.
Em 1654 os invasores foram derrotados e expulsos por uma expedição comandada por Álvaro de Azevedo Barreto.
Em volta desse forte nasceu o que seria a vila de Fortaleza, que, no entanto, não foi a primeira capital do Ceará. Essa honra coube a cidade de Aquiraz, que em 1713 foi escolhida como a primeira vila do Ceará, situação que mudou devido ao ataque dos índios e a melhor condição de Fortaleza em dar segurança para as elites que se estabeleciam na capitania. Em 13 de abril de 1726, Fortaleza recebeu o status de vila como capital cearense.
                        
Fontes:
COSTA, Giovani. História do Ceará: invasão holandesa. In: blog do Inharé em 26 de janeiro de 2013.
FARIAS, Airton de. História do Ceará: dos índios a geração Cambeba. Fortaleza: Tropical, 1997



[1] Aluno do 3ºB da EEFM Estado do Paraná

[2] Formado em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor da rede pública estadual do Ceará