29 de abr. de 2020

Reflexões sobre o Dia do Trabalhador (1º de Maio)


Origem da data
Em primeiro de maio de 1886 na cidade de Chicago nos Estados Unidos tem início uma greve reivindicando a jornada de trabalho de 8 horas. Na época, os trabalhadores das indústrias eram obrigados a trabalhar até 17 horas por dia num ritmo de exploração desumano. Mas, a classe trabalhadora descobriu a sua principal arma para conquistar direitos: a organização política e sindical. Foram, então, criados os sindicatos, como ferramenta de luta organizada para enfrentar a poderosa classe burguesa, a proprietária dos meios de produção e, portanto, dos principais recursos econômicos da sociedade.
Os sindicatos da cidade de Chicago eram dirigidos pelos anarquistas, grupo político que defendia o estabelecimento de uma sociedade igualitária e a imediata destruição do Estado, visto por eles como um balcão de negócios da burguesia.
A adesão à greve foi massiva e envolveu cerca de 340.000 trabalhadores em todo o país, mas dois dias depois, em 3 de maio, ocorre um confronto entre os grevistas a policiais armados, resultando na morte de três trabalhadores. Na noite seguinte outro confronto com a polícia resultaria na morte de 7 policiais e de 12 manifestantes, além de dezenas de feridos.
Cinco militantes anarquistas, Albert Parsons, Adolph Fisher, George Engel, August Spies e Louis Ling foram responsabilizados por essas mortes e condenados execução na forca. Um deles cometeu suicídio, Louis Ling, e os outros 4 foram enforcados em 11 de novembro de 1887. Outros três foram condenados à prisão perpétua. 
Mas, em 1893 foi feita uma importante revelação: havia sido o chefe da polícia que tinha organizado todo o atentado para justificar a repressão aos grevistas, que foram, então, inocentados.
Para homenagear esses grevistas, mortos injustamente por reivindicar um direito tão importante para a classe trabalhadora, a Segunda Internacional decidiu convocar anualmente uma manifestação na mesma data do início da greve de Chicago: o Primeiro de Maio, que surgia como um dia de luta pela conquista definitiva da jornada de 8 diárias de trabalho.  Na manifestação de 1891 na França houve outro conflito entre trabalhadores e policiais que resultou na morte de 10 manifestantes.  A Segunda internacional decidiu convocar o primeiro de maio anualmente na luta por diversos direitos trabalhistas e não mais apenas pela jornada de 8 horas. Essa conquista foi obtida no período entre guerras (1919-1939).

Primeiro de maio no Brasil
No Brasil essa data era motivo de muitos protestos dos trabalhadores reivindicando direitos. Para controlar a situação o presidente Arthur Bernardes decidiu decretar a data como feriado nacional a partir de 1925, transformando-a numa data de festas e homenagens, descaracterizando a motivação do movimento. O objetivo não era, de fato, homenagear os trabalhadores, mas enfraquecer sua luta. Naquela época foi por meio dessas lutas que os trabalhadores obtiveram direitos hoje importantíssimos: além da jornada de diária de 8 horas, houve a regulamentação do trabalho da mulher e do menor, o descanso semanal remunerado e as férias remuneradas.
No entanto, o presidente Getúlio Vargas, aproveitava o dia primeiro de maio para regulamentar esses direitos obtidos na luta e se apresentar como o “Pai dos pobres” por supostamente conceder direitos aos trabalhadores. Em primeiro de maio de 1940 ele estabeleceu a lei do salário mínimo, no ano seguinte, na mesma data, ele regulamentou a Justiça do Trabalho e em 1943 implantou a CLT, Consolidação das Leis Trabalhistas.  Tudo na perspectiva de deturpar o sentido da luta. Até o feriado mudou de nome: os militantes que lutavam por direitos chamavam de Dia do Trabalhador, para passar a ideia de protagonismo de classe; o governo conseguiu impor o conceito de Dia do Trabalho, termo que, sutilmente, esconde a luta e coloca em seu lugar a ação paternalista do governo, numa forma de dificultar a formação da consciência de classe entre os mais explorados sociedade.

Dia de São José Operário
Até a Igreja Católica se preocupou em desviar o sentido do dia primeiro de maio quando em 1955 o Papa Pio XII instituiu essa data como o Dia de São José Operário, para desviar os trabalhadores cristãos das lutas operárias desse dia, tornando-o num dia de receber as mensagens da Igreja.

Conclusão
O dia Primeiro de Maio não é uma data qualquer. Ela possui uma simbologia cujo sentido e razão de ser é disputado por diversos segmentos de classe social. De uma data de luta por direitos, os governantes transformaram num feriado e dia de festa.
De uma data de conscientização de classe, a Igreja Católica instituiu um momento de aceitação do domínio de uma classe sobre outra.
Enfim, cabe aos trabalhadores do tempo atual aproveitarem a data para refletirem o seu significado e buscarem novamente o caminho das conquistas acreditando nas suas forças.


Autor: Júlio César, professor de História da rede estadual do Ceará

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